23maio • 23 Carla Madeira, drama, Ficção, Literatura Brasileira, Literatura Nacional, Record, resenha, Resenhas de Livros, Romance

Resenha 439 Véspera

Título: Véspera
Autor: Carla Madeira
Editora: Record
Páginas: 280
Ano: 2021
Gênero: Romance/ Literatura Brasileira/ Literatura Nacional/ Ficção
Classificação: 5 estrelas

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Sinopse: Carla Madeira cria personagens que parecem estar vivos diante de nós. As emoções que sentem são palpáveis e suas reações, autênticas. Temos a sensação de conhecê-los de perto, inclusive as contradições e os pontos cegos. Tal virtude é evidente em seu livro de estreia e grande sucesso, Tudo é rio (2014), mas também no livro seguinte, A natureza da mordida (2018).

Os personagens de Véspera, este seu novo romance, possuem a mesma incrível força vital. Mas se em Tudo é rio Carla os criou com poucas pinceladas e traços incisivos, aqui, para delinear suas personalidades, ela opta por uma superposição de camadas psicológicas. Se antes eles primavam por temperamentos drásticos ― capazes de extremos de paixão, ciúme, ódio e perdão ―, aqui a estratégia gradativa de composição confere-lhes uma dose maior de mistério, sugerindo ao leitor antecipações que só aos poucos se confirmam, ou não. A força emocional continua existindo, porém está menos visível, o que deixa a atmosfera ainda mais carregada de suspense e tensão.

A narrativa começa com a pergunta: como se chega ao extremo? Vedina, uma mulher destroçada por um casamento marcado pelo desamor, em um momento de descontrole abandona seu filho e, imediatamente arrependida, volta para o lugar onde o deixou e não encontra quaisquer vestígios de sua presença. Este é o acontecimento nuclear da trama que expõe as entranhas de uma família – pai alcóolatra, mãe controladora, irmãos gêmeos tensionados pelas diferenças – que, como tantas outras famílias, torna-se um lugar onde as singularidades de cada um não são acolhidas, criando rachaduras por onde a violência se infiltra.

Contada em dois tempos, o dia do abandono e os dias que vieram antes dele, o romance avança como duas ondas até que elas se chocam e se iluminam. O leitor se vê diante de um espantoso presente que expõe o quanto as palavras são capazes de inventar a verdade.

“O tempo flutua invisível e em espesso presente. Nada apodrece sem ele. Nada floresce. Nada se torna amável. Nenhum ódio viceja. Nenhuma umidade seca. Nenhuma sede cede. As tempestades não inquietam nele ventos, as avalanches não podem soterrá-lo, a perplexidade não o paralisa, o mal não o ameaça e o bem não faz com que se demore. Mas eis que um acontecimento, um único acontecimento, captura o tempo e o aprisiona.”

Hey meus amores, como vocês estão? Hoje vim contar um pouco sobre a minha experiência lendo o livro Véspera, da autora Carla Madeira. Vamos nessa?

Bom, o livro vai contar a história de vida dos irmãos gêmeos idênticos Caim e Abel. Tudo começa com a definição dos nomes de ambos, a mãe, dona Custódia, tinha o sonho de engravidar e sempre foi muito frustrada no casamento. Ela acaba se apegando à religião e finalmente engravida dos gêmeos, mas isso não faz com que a relação com o marido se suavize, e quando ela estava perto de dar à luz aos filhos, eles acabam tendo uma grande discussão que faz com que o pai, como um ato de vingança, nomeie os filhos como Caim e Abel.

Inocência ou falta de noção, raiva ou mesquinharia momentânea, a verdade é que a escolha desses nomes iria governar a vida desses meninos. Para quem não sabe, Caim e Abel são os primeiros filhos de Adão e Eva na Bíblia, e eles também são os personagens principais do primeiro homicídio no mundo. Um irmão matando o outro e gêmeos recebendo o mesmo nome não é lá muito auspicioso. Dona Custódia concorda, como boa religiosa que é, e decide que seus filhos se chamarão Abel e Abelzinho, mas essa decisão só perdura até as crianças entrarem na escola e ali o que vale é a certidão de nascimento.

A entrada na escola é o grande momento de virada no livro, vamos ver os gêmeos mostrando suas personalidades e os identificamos como pessoas. Caim ama a escola, estudar e logo faz grandes amizades, ele tem uma personalidade solar e calorosa, enquanto Abel é o oposto. Abel é mais tímido e retraído, não consegue se adaptar a escola e tem uma personalidade mais quieta. É então que aos poucos os irmãos vão se afastando, apesar de tão parecidos fisicamente, eles eram o oposto um do outro.

Ao longo dos anos vamos ver esse afastamento ficar ainda maior conforme outras pessoas vão entrando na vida de ambos. Mas a vida de Caim e Abel não é tudo o que encontramos aqui. O livro é narrado mostrando o passado, com os gêmeos crescendo, e o presente onde ambos já são adultos. No presente nós temos a figura de Vedina, a esposa de Abel, narrando um momento desesperador de sua vida. Cada capítulo se intercala, se complementa e ao final culmina em algo completamente inesperado para mim, confesso que me surpreendeu e creio que irá te surpreender também.

Eu amei esse livro, como Tudo é Rio, ele não é tão longo, mas é muito denso e gera muita discussão e reflexão. Preciso destacar alguns personagens, a Dona Custódia fica tão obsessiva com os nomes dos filhos que deseja um futuro diferente para ambos do que aqueles em quem os nomes foram inspirados, ela é uma boa mãe, mas não dá pra negar que a superproteção foi prejudicial aos filhos. Destaque também para o padre que muito aconselhou essa mãe na época da escola, nossa que personagem genial, fora outros que enriqueceram demais o livro.

Confesso que essa história me emocionou demais, muito bem escrito e com aquela narrativa poética, polêmica e encantadora da Carla, eu já virei fã e desejo que muitas outras pessoas também leiam e se emocionem com Véspera.

Fica a dica e até breve!

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