04out • 22 Alfaguara, Ficção, literatura estrangeira, Literatura irlandesa, resenha, Resenhas de Livros, Romance, Sally Rooney

Resenha #423 Conversas entre amigos

Título: Conversas entre amigos
Autor: Sally Rooney
Editora: Alfaguara
Páginas: 264
Ano: 2017
Gênero: Ficção/ Literatura Estrangeira/ Literatura Irlandesa/ Romance
Classificação: 3,5 estrelas

Compre o Livro

Sinopse: Frances, uma estudante de vinte e um anos que vive em Dublin, é escritora e apresenta em público suas peças de poesia com Bobbi, sua ex-namorada e melhor amiga. Ela é tímida, austera e distante; Bobbi é mais comunicativa e de fácil trato. Quando Melissa, uma notável fotógrafa e ensaísta, se aproxima de ambas para oferecer um perfil em uma renomada revista, elas aceitam com entusiasmo. Enquanto o encanto de Bobbi por Melissa aumenta, Frances se aproxima pouco a pouco de Nick, o marido-ator não muito bem-sucedido, e a relação de poder que se estabelece entre os quatro se torna cada vez mais complexa.

Escrito com precisão e inteligência, Conversas entre amigos é um relato impressionante das paixões e perigos da juventude. Neste romance de estreia, Sally Rooney consegue conciliar vulnerabilidade e força em um mundo que não tem nada de trivial.

A leitura de Conversas entre Amigos começou como uma sugestão de leitura coletiva (que, aparentemente, só eu acompanhei) e foi uma viagem a um mundo de cinismo e falta de amor-próprio. Mas foi bom?

“Eu queria as coisas para mim porque achava que eu existia.”

O livro de estreia da autora irlandesa é narrado em primeira pessoa, acompanhamos os pensamentos de Frances, uma estudante de literatura, e sua relação com aqueles que a cercam, Bobbi, a melhor amiga e ex-namorada, Melissa, uma fotógrafa e ensaísta, e Nick, um ator não muito bem-sucedido, marido de Melissa, ambos mais velhos que as duas amigas. Quando Melissa chama Frances e Bobbi para montar um artigo sobre elas, Bobbi se encanta com a ensaísta e Frances se aproxima de Nick. E com “se aproxima”, eu quero dizer que eles têm um caso tórrido. Ainda, cabe destacar que o livro possui bons personagens secundários, em especial Bobbi e outros colegas da faculdade.

Sally Rooney possui uma forma peculiar de escrever diálogos, principalmente. A dispensa de travessões ou aspas é uma marca da autora. Além disso, a forma que ela escreve situações e reações que, à primeira vista, parecem não convencionais, subvertendo uma visão clássica de pessoas e reações, dando muita humanidade a suas personagens. A facilidade e a fluidez da leitura te deixam envolvido na história. Ainda, é interessante como nenhuma das relações do livro são convencionais.

“Passei o dedo na clavícula dele e disse: não me lembro de ter pensado nisso no começo. Que essa história estava predestinada a ter um final infeliz. Ele assentiu, me olhando. Eu pensei, disse ele. Mas achei que valeria a pena.”

Histórias de traição são complicadas, afinal em todo produto que consumimos estarão nossas próprias experiências e valores como pesos para o julgamento. Essas histórias, em geral, são complexas porque tratam do comportamento humano mais animalesco, voltado para um desejo “irresistível”, apesar de achar que nada justifica uma traição. Não foi diferente nesse livro.

A tensão sexual entre Nick e Frances é palpável, ainda que fria, como grande parte das relações do livro. Sinto que as únicas relações minimamente calorosas são entre Frances e sua mãe e Frances e Bobbi. A relação das quatro personagens principais – Frances, Bobbi, Melissa e Nick -, é explorada com uma naturalidade quase mórbida, sem afetar puritanismos de nenhuma espécie. E eu penso que é nisso que o livro cresce, nas conversas entre “amigos”.

“Num certo nível de abstração, qualquer um poderia ter escrito o poema, mas isso também não era verdade. Tinha a sensação de que o que ele dizia de verdade era: tem algo de lindo na maneira como você pensa e sente, ou a maneira como você vivencia o mundo é linda de algum modo.”

Porém, todas as brigas, todo o sexo e todas as conversas parecem não surtir efeito para o crescimento da narradora. Ainda que no decorrer da história ela consiga atingir alguns objetivos profissionais e até pessoais, não vejo ela evoluindo com tudo o que viveu na história, não aprendeu com o que viveu, com quem magoou ou por quem foi magoada. O que pode ser considerado um traço humano, principalmente da juventude pós-moderna, mas não me agrada.

Vale destacar que, enquanto Frances é a protagonista, ela, por diversas vezes, faz o papel de antagonista, seja de si própria, seja para as pessoas que a cercam, principalmente Nick e Bobbi.

“Aos poucos a espera começou a parecer menos uma espera e mais como se a vida fosse simplesmente assim: tarefas bobas enquanto o que você espera continua não acontecendo.”

O livro trata de relações de poder nas nossas relações pessoais, a todo instante o poder está sendo exercido, por um ou por outro; ainda sobre poder, mostra como este é exercido de maneiras diferentes quando se trata de gêneros, classes sociais, origens e ideias diferentes.

Ao final, o saldo é positivo, porém tem seus problemas. Ainda que a leitura flua organicamente e seja prazerosa, a narração da Frances é, muitas vezes, fria e sem amor-próprio. A personagem parece ser levada conforme a direção do vento, não fazendo escolhas, mas seguindo as escolhas de terceiros, pois se julga menos que aqueles que ama, o que pode cansar o leitor. Revelações chegam a acontecer, mas algumas coisas nem são exploradas a fundo, como a doença da personagem. Até alguns dos momentos de maior tensão nos conflitos são peneirados e amortizados em passagens frias e sem emoção.

confira também os Posts Relacionados

Comente com o Facebook

Deixe seu comentário