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Resenha #425 Gente Ansiosa

Título: Gente Ansiosa
Autor: Fredrik Backman
Editora: Rocco
Páginas: 368
Ano: 2021
Gênero: Drama/ Ficção/ Literatura Estrangeira/ Romance
Classificação: 4,5 estrelas

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Sinopse: Best-seller instantâneo do New York Times, o novo romance do autor de Um homem chamado Ove é um “romance engraçado e emocionante”.

A busca por um apartamento não costuma ser uma situação de vida ou morte, mas uma visita imobiliária toma tais dimensões quando um fracassado assaltante de banco invade o apartamento e faz de reféns um grupo de desconhecidos.

O grupo inclui um casal recém-aposentado que procura sem parar, casas para reformar, evitando a verdade dolorosa de que não é possível reformar o casamento. Há um diretor de banco rico, ocupado demais para se preocupar com outras pessoas, e um casal que, prestes a ter o primeiro filho, não concorda sobre nada. Acrescenta-se uma mulher de 87 anos que já viveu demais para temer uma ameaça à mão armada, um corretor imobiliário assustado, mas ainda disposto a vender, e um homem misterioso que se trancou no único banheiro do apartamento, e assim completamos o pior grupo de reféns do mundo.

Cada personagem carrega uma vida de reclamações, mágoas, segredos e paixões prestes a transbordar. Ninguém é exatamente o que parece. E todos — inclusive o ladrão — estão desesperados por algum tipo de resgate. Conforme as autoridades e a imprensa cercam o prédio, os aliados relutantes revelam verdades surpreendentes e desencadeiam eventos tão inusitados que nem eles próprios são capazes de explicar.

Não poderia iniciar essa resenha (se muito) com essa citação que, basicamente resume o livro pra mim:

“Esta história fala de muitas coisas, mas sobretudo de idiotas. No entanto, é necessário deixar claro desde o início que é muito fácil afirmar que os outros são idiotas, ainda mais se você esquece o quanto é idiotamente difícil existir como ser humano. Especialmente se você estiver tentando agir como um ser humano razoavelmente bom para outras pessoas.”

Gente Ansiosa foi escrito pelo sueco Fredrik Backman e conta as histórias de diversos personagens que estavam em busca de um apartamento para comprar e se veem no meio de uma situação de reféns.

Iniciei essa leitura despretensiosamente, mesmo sabendo que a Netflix preparava uma adaptação – sabe a ânsia do leitor em consumir algo para poder ver a adaptação e criticar sem pena? Mais ou menos isso. Eu só não esperava ser arrebatado dessa maneira.

“Porque a parte terrível de se tornar adulto é ser forçado a perceber que absolutamente ninguém se importa conosco, temos que lidar com tudo nós mesmos, descobrir como o mundo inteiro funciona.”

Apesar de ter demorado mais do que gostaria para finalizar a leitura, a cada página que lia me sentia mais curioso e envolvido naquela situação de reféns. Os bons personagens e diálogos são um deleite pela construção e a forma que eles se relacionam entre si.

Permeado de momentos cômicos e uma forte voz narrativa onisciente, Gente Ansiosa mescla situações absurdas e reais com muita desenvoltura. Ainda assim, penso que o narrador, ainda que não seja uma personagem em si, possui grande presença na história, para o bem e para o mal.

“A verdade? Quase nunca é tão complicada quanto imaginamos. Apenas esperamos que seja, porque assim nos sentiremos mais inteligentes se pudermos resolver tudo de antemão.”

Em alguns momentos, senti que a história estava me cansando, com inúmeras reviravoltas e revelações, como num eterno looping de “arrás”. O narrador onisciente parecia buscar o choque ou a surpresa a todo instante, invertendo histórias de sua ordem cronológica e remontando a realidade a seu bel prazer. O que nem sempre funcionava.

Devo dar o braço a torcer que, o autor faz uso de alguns artifícios narrativos interessantes para tentar driblar esse cansaço, trabalhando os traumas e ansiedades de cada personagem envolvido na história de forma muito divertida. Essa habilidade faz com que o resultado seja muito satisfatório.

“Dizem que a personalidade de uma pessoa é a soma de suas experiências. Mas não é verdade, pelo menos não inteiramente, porque, se nosso passado fosse tudo o que nos define, nunca seríamos capazes de nos suportar. Precisamos nos permitir reconhecer que somos mais do que os erros que cometemos ontem. Que somos também todas as nossas próximas escolhas, todos os nossos amanhãs.”

A forma com que o autor consegue conectar os personagens e dar peso para cada relação criada naquele ambiente de sequestro é divertida e inteligente. Cada história, cada pessoa, cada relação, cada detalhe importa para a história.

As personagens têm suas próprias ansiedades, suas próprias questões que as levaram até aquele momento. As personagens Zara, Estelle, Anna-Lenna e o Assaltante de Banco são um destaque a parte, são as pessoas mais interessantes e com as “ansiedades” mais curiosas do apartamento, palco da situação de reféns.

“Uma das coisas mais humanas da ansiedade é que tentamos curar o caos com o caos. Alguém que se envolveu em uma situação catastrófica raramente foge dela, estamos muito mais inclinados a seguir em frente ainda mais rápido. Nós criamos uma vida onde podemos ficar assistindo enquanto outras pessoas se chocam contra um muro, mas ainda esperamos que de alguma forma possamos passar direto pelo acidente. Quanto mais nos aproximamos, mais confiantes acreditamos que alguma solução improvável milagrosamente nos salvará, enquanto todos que nos assistem estão apenas esperando pelo desastre?”

O fio condutor da história, a situação de reféns, é divertida e envolta num mistério, uma vez que o caso não parece ter uma resolução fácil ou boa para todas as partes envolvidas. A conclusão e o fim de cada personagem é extremamente satisfatório e pode deixar o leitor com um sorriso no canto do rosto e o coração quente.

Por fim, a história de Gente Ansiosa esboça um retrato da sociedade de forma perspicaz, dando voz a todas as personagens no momento certo, trazendo e tratando ansiedades e, até mesmo, ideações suicidas de forma muito delicada, com a responsabilidade e o cuidado necessário que a matéria precisa.

“Não passamos de estranhos de passagem uns pelos outros, a ansiedade de um roçando brevemente a de outro enquanto as fibras de seus casacos se tocam por segundos numa calçada movimentada de algum lugar. Nunca sabemos de fato o que fazemos um ao outro, um com o outro, um pelo outro.”

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, pelo número 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Para conhecer e saber mais, acesse: www.cvv.org.br.

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